ATA DA QUADRAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LE­GISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 06.10.1992.

 


Aos seis dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e no­venta e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Quinta Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Lucinda Maria Lorenzoni, concedido através do Projeto de Resolução nº 26/91 (Processo nº 1688/91), de autoria do Vereador Artur Zanella. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Artur Zanella, no exercício da Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre; Professora Lucinda Maria Lorenzoni, Homenageada; Irmão Avelino Madalozzo, Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Professora Elaine Turk Faria, Coordenadora do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da PUC; e Irmãos Faustino João e Moacyr Empinotti, Assessores da Reitoria da PUC. Como extensão da Mesa: Professora Maria Emília Engers, Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação da PUC e Professor Armando Bortolini. A seguir, o Senhor Presidente, em nome da Casa, reportou-se sobre a homenagem prestada, informando que a Professora Lucinda completou cinqüenta anos de magistério e que o Título de Cidadão Emérito é concedido a pessoas que se destacam em suas atividades profissionais. Afirmou, ainda, que esta Homenagem se estende à PUC e aos professores, dizendo que educação e saúde devem ser prioridade em qualquer plano de governo e ensejando que a classe dos professores seja devidamente valorizada no futuro. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem a entrega do Diploma à Professora Lucinda Lorenzoni por Sua Excelência. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Professora Lucinda que agradeceu a homenagem prestada e relatou sua trajetória profissional. Às dezessete horas e cinqüenta minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Artur Zanella e secretariados pelo Vereador Leão de Medeiros. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Artur Zanella): Damos por abertos os trabalhos desta Sessão Solene, que é destinada a entregar o Título Honorífico de Cidadã Emérita à Sra. Lucinda Maria Lorenzoni.

Convidamos a fazer parte da Mesa: a Exma. Sra. Prof.ª homenageada Lucinda Maria Lorenzoni; o Exmo. Sr. Vice-Reitor da PUC, Irmão Avelino Madalozzo; a Exma. Sra. Coordenadora do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da PUC, Prof. Elaine Turk Faria; Exmo. Srs. Assessores da Reitoria da PUC, Irmãos Faustino João e Irmão Moacyr Empinotti.

Como extensão da Mesa quero citar a Prof. Maria Emília Engers, Coordenadora dos cursos de pós-graduação da PUC, e o Prof. Armando Bortolini.

Meus Senhores e minhas Senhoras: A Câmara Municipal de Porto Alegre está reunida hoje para entregar à Prof.ª Lucinda Maria Lorenzoni, nascida em Bento Gonçalves em 9 de dezembro de um ano qualquer, mestre em educação que completou no ano passado cinqüenta anos de magistério.

A Câmara Municipal, dentro de suas atribuições, procura sempre destacar aquelas pessoas que mereçam ser lembradas para todo o sempre, num livro especial que nós temos aqui, na Câmara de Vereadores, e na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que levarão para as gerações futuras nomes de pessoas que servem e servirão como um exemplo para todas as gerações e que servem como uma lembrança, como uma amostragem, daquelas pessoas que devam ser homenageadas. Sempre tenho dito, e se alguma pessoa aqui vem e vêm, duas coisas, basicamente: em primeiro lugar, quando homenageamos uma personalidade nós a homenageamos dentro de um contexto, as pessoas não existem como entes isolados. Então, hoje estamos homenageando aquela classe que trabalha em educação. Estamos homenageando também a Pontifícia Universidade Católica, estamos homenageando a classe de professores e professoras, tão difícil de ser valorizada numa época como esta. Eu, inclusive, fui professor universitário, até o dia em que declarei uma frase. Ela não é muito brilhante, mas refletia exatamente aquilo que eu pensava e penso daquela minha atuação. Eu sou economista, fui do Estado, agora Vereador, e eu disse que não lecionaria mais, porque eu não queria mais sofrer, me incomodar onde eu não ganhava a vida. Eu achava, e acho, que a classe dos professores e das professoras, ainda um dia, espero, tenha uma resposta a todos os programas de governo que eu conheço. Eu trabalhei em diversas vantagens de planos de governo. E uma das coisas mais fáceis de fazer é o plano de governo. É só colocar que a educação e a saúde são prioritários. E todo plano de governo começa assim. Depois as ações são outras coisas. Então espero que um dia, efetivamente, o ensino e a educação sejam prioritários, que as pessoas sejam valorizadas. E é por isto que neste dia nós fazemos esta homenagem. Uma homenagem da Câmara Municipal de Vereadores, que eu também tenho repetido numa segunda parte nos discursos que eu faço aqui nesta Casa em ocasiões como esta, que a Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre tem legitimidade para isso. A Câmara existia quando não existia a Prefeitura, quando não existia o Poder Executivo nessa Cidade, já existia a Câmara Municipal de Vereadores, ela tem 223 anos. Eu sempre digo que o País Estados Unidos ainda não existia e esta Câmara já existia. Não tinha Revolução Francesa e os Vereadores já se reuniam em Porto alegre para gerir essa Cidade, que na época não tinha Prefeito, tinha uns cinco Vereadores que cuidavam de toda a Administração. O Brasil não existia, era uma colônia e a Câmara já existia. E lembro que quando José Bonifácio voltou ao Brasil para comandar as lutas da independência, ele não foi ser ministro, ele foi ser Vereador, de Santos, mais precisamente.

Então nós temos a legitimidade toda, completa, para escolher e definir quem é que nós queremos que seja citado como um exemplo de uma determinada atividade. E por isto que hoje a Professora Lucinda Maria Lorenzoni recebe este Título, ela que não é nascida em Porto alegre e sim em Bento Gonçalves e que, de vez em quando eu saio do protocolo, porque estamos entregando este Título após as eleições. Eu até lamento muito, mas eu não procurei a Professora nem para pedir o voto dela, nem isto eu fiz, para não ligarem qualquer ilação em termos de um aproveitamento eleitoral. Eu não fui na PUC, eu não fui falar com os Diretores da PUC, não falei nem com ela quando apresentei a proposta para o Título de Cidadão Emérito desta Cidade. Eu recebi o seu “curriculum”, recebi as informações sobre ela, recebi toda uma gama muito grande de informações, e me sinto orgulhoso no dia de hoje, em que os Senhores e as Senhoras devem compreender que os nossos colegas devem estar todos ligados no rádio, ou no TRE ou lá na Caldas Júnior, lá na RBS, lá nas Juntas apuradoras, nas casas de religião ou numa igreja, rezando. Mas, eu estou aqui – e faço questão de estar – entregando esse título a uma pessoa a quem muito deve Porto Alegre, o Estado do Rio Grande do Sul, uma educadora muito experiente, a mais experiente da PUC, com seus 50 anos de ensino, 50 anos de educação, numa área exigente. Sou ex-aluno marista e sei o quanto essas entidades religiosas zelam pelo ensino adequado, bom. Meu filho é estudante da PUC, foi monitor, e sei, conheço a forma pela qual aquela entidade mantém o ensino.

Essa é a culminância de um processo que se iniciou no ano passado, que passou pelas comissões, aprovado pelo Plenário, e finalmente entregamos o Título à Professora Lucinda Maria Lorenzoni. Quero que todos levem a convicção de que devemos prestigiar, destacar, as pessoas que merecem levar para todo sempre desta Casa e desta Cidade o reconhecimento pelo seu trabalho, pela sua figura, o reconhecimento pleno de que a educação está sendo homenageada hoje, através da Profª Lucinda Maria Lorenzoni. Pode ser que a nossa geração não viva e não observe, não seja testemunha de uma valorização plena dos educadores. Queremos contribuir, hoje, com a nossa parcela nesse reconhecimento à Professora Lucinda Maria Lorenzoni ao conceder-lhe o Título de Cidadã de Porto Alegre.

Convido os presentes, aos quais agradeço de todo coração pela solidariedade deste dia, para assistirem, em pé, a entrega do Título.

 

(É procedida a entrega do Título.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedo a palavra a nossa homenageada, Prof.ª Lucinda Maria Lorenzoni.

 

A SRA. MARIA LUCINDA LORENZONI: (Lê a nominata da Mesa.) Meus estimados alunos e ex-alunos, colegas e amigos do extinto CPOM, membros de minha família aqui presentes, todos aqueles que me são caros, presentes ou ausentes, aos quais reservo estima e consideração em meu pensamento. Não foi fácil encontrar palavras que expressassem, com limpidez e sensibilidade, os sentimentos que me enchem a alma e resumissem meus pensamentos e ações. O sentimento mais forte é o de surpresa e indagação sobre se realmente mereço distinção como esta que a Cidade de Porto Alegre, por seus dignos representantes, me concedem. São quarenta anos de trabalho desenvolvido nesta cidade, quase que exclusivamente em sala de aula, em contato com alunos, desde crianças de cursos primários até jovens, alunos jovens ou maduros, preparando-se profissionalmente ou aprofundando sua formação profissional em cursos de extensão, especialização ou mestrado. Por esta razão a surpresa, uma professora que iniciou sua vida profissional em vilas, ou cidades tão distantes de nosso Rio Grande, desde as séries iniciais até o ensino normal e superior, desenvolvendo uma função que certamente não é das mais valorizadas em nossa cultura, só pode se surpreender. Nesta trajetória feita de trabalhos refletidos cumpri meu dever, assumi minhas responsabilidades, aceitei minhas obrigações combati o bom combate, porque assim deveria ser. Ainda mais porque em mim a consciência da profissão caminha pari passu com a construção continuada e persistente da identidade profissional. Isto quer dizer que além de me perguntar: Quem sou eu? Quem quero ser? Que tipo de pessoa quero ser?  Vou fazendo de minha experiência no trabalho, algo que me defina a que vou me unindo paulatinamente, e a medida que vou me diferenciando dos demais, que são diferentes de mim. Ao longo do tempo e enquanto minhas concepções e meus modos de compreender, meus pareceres sobre a minha profissão vão se reformulando e renovando, sinto-me cada vez mais ligada ao que faço, a ponto de colocar-me e responder por mim mesma com autonomia de pensamento e ação, aquilo que define minha própria identidade, pela reconstrução dessas modificações através de um processo contínuo de aprendizado. Mas percebo que nesta trajetória de mais de 50 anos ainda não estou completa, falta-me atitudes, gestos, decisões, coragem para realizar ações que considero importantes e necessárias, por isso a surpresa. Não tenho méritos. Apenas cumpri meu dever como me foi possível, com as condições de minha mente, de meu coração, de acordo com o Plano de Deus.

Perdoem que lhes seja assim tão franca e sincera: é meu modo de ser, nunca teria passado pelo meu espírito, quando palmilhava este Rio Grande, visitando escolas, quer como orientadora, quer como técnica em educação, que, quase ao apagar das luzes da minha carreira profissional, antes do canto do cisne, os dignos Edis de Porto Alegre, por indicação do Exmo. Ver. Artur Zanella, e pela unanimidade de todos, esse honroso Título me fosse concedido. V. Exas. por este ato que me confere a cidadania porto-alegrense, reforça a cidadania rio-grandense que sempre assumi. Talvez, como é o uso nestas cerimônias, devesse relembrar todos aqueles mestres que, no seu exemplo e competência, ajudaram-me a crescer. Mas não vou fazer dessa forma, para não cometer ingratidão. Ao longo da vida, há lições maravilhosas de honestidade, de bondade, de riqueza, de experiência, de valorização da vida, de perseverança e fé, que também nos são dadas por pessoas simples, de quem às vezes nem sabemos o nome. Pela minha alma, meu coração e minha mente, perpassam sentimentos de gratidão e reconhecimento por esse valioso convívio humano que a vida me ofereceu. Nesse convívio, destaco meus queridos alunos, de quem sempre tenho aprendido preciosas lições. Vejo com redobrado cuidado a Resolução 1119, de 25 de outubro de 1991, da Câmara Municipal de Porto Alegre, assinada pelo então Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, e Leão de Medeiros como Secretário. Assumir o compromisso de Cidadã Emérita de Porto Alegre obriga-me a rever os conceitos contemporâneos de cidadania, sem desprezar as lições do passado.

Parece-me que diante de responsabilidade tão grande, de compromisso social tão forte, do que sei, nada sei.

Passo a olhar a Cidade com outros olhos, como se ela fosse continuação de mim mesma. Nada me é indiferente, agora. Principalmente porque sou professora, e o meu compromisso não se completa nunca. Por onde passar devo ter presente que esta Cidade é minha, como é Bento Gonçalves pelo nascimento, e Estrela pela afeição.

A resolução diz, também, o que é mais grave: “Revogam-se as disposições em contrário.” Portanto, está sacramentado. Por isso vou fazer silêncio, como nos diz o poeta em sua filosofia, sob forma de verso: “Há um grande silêncio que está sempre à escuta.

A gente se põe a dizer qualquer coisa, inquietamente qualquer coisa, seja o que for, desde a corriqueira dúvida, sobre se chove ou não hoje, até a tua dúvida metafísica. E por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala, o silêncio escuta e cala.”

Por tudo, aos meus amigos da Faculdade de Educação, aos meus digníssimos representantes desta Cidade; ao Exmo. Sr. Presidente, enfim, a todos um agradecimento sincero. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Meus Senhores e minhas Senhoras, se é difícil chegar até a Câmara Municipal de Vereadores, é difícil também ser Vereador, porque nós somos, aqui, na verdade, o repositório de uma sociedade, e nós, aqui, tratamos durante o dia de coisas tristes, e, no caso presente, de coisas alegres. A Professora deve ter visto, agora, que não é fácil falar ali de cima. Com toda a sua experiência, sabedoria, ela vê que não é fácil. Eu pretendia, também, que aquelas flores lhe fossem entregues agora, durante a cerimônia, mas também as pessoas não queriam, mas eu faço questão que lhe entreguem aquele buquê de flores agora, para que todos possam aplaudi-la novamente. (Palmas.)

Eu gostaria, então, a pedido do nosso Reitor, tirar uma fotografia final, e com esta fotografia, para ficar nos Anais, no Museu e na lembrança de todos os Senhores e de todas as Senhoras, eu declaro esta Sessão encerrada, agradecendo de todo o coração a presença de todos aqui. Muito obrigado.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h50min.)

 

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